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PESCA COM EXPLOSIVOS NA BTS




 

Suami Vivecananda Alves Bahia

 

A pesca com a utilização de artefatos explosivos não acontece somente na Baía de Todos os Santos. Em mais de quarenta países a mesma é praticada por pessoas inescrupulosas e sem o mínimo de consciência do imensurável prejuízo que causam ao meio ambiente. Dependendo da potência do explosivo a destruição atinge dezenas de metros de diâmetro. Todo ambiente atingido pela explosão é irremediavelmente destruído sem probabilidades de recuperação ao longo do tempo. Os impactos provocados pelas explosões aniquilam a fauna e a flora aquática riquíssima de espécimes como os plânctons, os crustáceos, os alevinos, etc. Os recifes de corais e os manguezais são alvos também desses elementos.

Na Baía de Todos os Santos essa modalidade de pesca, conhecida como pesca predatória, vem ocorrendo há muito tempo conforme artigo publicado na Revista do Museu Paulista em 1935 retratando as palavras do naturalista Olivério Pinto:

“Infelizmente, já se vae também generalizando em toda zona o uso de meios danosos de pesca, salientando-se entre elles o emprego de bombas de dynamite. Contra prática tão funesta de nada têm valido prohibições e ameaças da capitania dos portos, porque partindo o exemplo dos poderosos, julgam-se todos com igual direito de depredar os mares, sem considerações pelas ruinosas conseqüências d’ahi fatalmente decorrentes. Nos nossos passeios quase diários pelo Soape era quase infalível que ouvíssemos, com o coração compungido e íntima revolta, os estampidos das grandes bombas, lançadas umas após outras pelos pescadores. Assim era, e é provável que assim continue a ser, até que o empobrecimento definitivo d’aquellas águas, outr’oras tão piscosas, venha por um paradeiro natural à inqualificável usança”.

O Naturalista refere-se à Baía do Iguape também conhecida como Alagado do Iguape. O local é de indescritível beleza com seus manguezais, ilhas, localidades históricas como Maragogipe, São Francisco e São Tiago do Iguape, Cachoeira e São Félix interligadas por uma ponte. Ainda existem monumentos da época do Império como a Igreja dos Franciscanos, a Antiga Escola de Agronomia, etc. A Baía do Iguape é formada pelas águas do Rio Paraguaçu, Rio Guaí e águas da Baía de Todos os Santos.

Outras cidades como Nagé, Coqueiros situadas às margens do Paraguaçu, assim como Guai e São Roque tem seu papel importante na região.

A pesca predatória é aquela praticada por meios ilegais como o uso de explosivos, certos vegetais (Como o tinguí), rede de malha fina, compressores e por produtos químicos como alguns carrapaticidas, hipoclorito, carbureto, cianeto, etc.

 

Pesca com explosivos

É a mais antiga e remonta desde os idos de 1930. Naquela época devido aos grandes cardumes e alta produtividade das espécies, eram obtidas toneladas e mais toneladas de peixes principalmente no interior da Baía do Iguape e ao longo do curso do Rio Paraguaçu. Por todo Iguape as explosões se sucediam diariamente dizimando não só os cardumes, como toda fauna e flora situadas na área de influência das explosões quase sempre próximas dos manguezais. Era uma verdadeira indústria pesqueira com comércio próprio, local de salmoura, etc. O pescado chegava até Salvador em saveiros onde na Rampa do Mercado tinha seu destino final. Daqueles tempos para os dias de hoje só mudou uma coisa, a quantidade de peixes. Os “Bombistas” continuam a procura dos já escassos cardumes que vêm reproduzir ou se alimentar nos manguezais ou enseadas.

No ano 2000 só no trecho compreendido entre a Gambôa de Baixo e a Praia de Inema aconteciam entre 50 a 80 explosões diárias. Atualmente, são registradas em média de 10 explosões diárias.

Por incrível que pareça, como outrora, ainda existem “Bombistas” de renome como o “Da guerra” que age na península de Itapagipe e o Fifiu que domina toda área do Canal de Itaparica e Salinas da Margarida. Infelizmente a estes dois nomes somam-se muitos outros mais que fazem parte das “gangues” de “Bombistas”.

 

PROCEDÊNCIA DOS EXPLOSIVOS

É do conhecimento das pessoas que estão envolvidas nesta questão que todo material para a pesca predatória seja ele pronto (Dinamite, bomba) ou a granel como o clorato de potássio, enxofre, espoleta, estopim, etc., é conseguido na região de Santo Antônio de Jesus. As dinamites são conseguidas através de funcionários inescrupulosos das Pedreiras assim como alguns explosivos do tipo C-4.

 

COMO AGEM OS INFRATORES

Após conseguirem o “material de trabalho” os “bombistas”, geralmente em número de três, pegam embarcações alheias ou “tomam na raça” de pescadores e dirigem-se para o cardume previamente localizado pelo “pessoal de terra” que fica atento também para avisar se existe algum tipo de fiscalização na área. Enquanto isso, os “corsários” ficam de prontidão pois o “trabalho” tem que ser do tipo “jogo rápido”.

Pavio ou cigarro aceso, bomba pronta, a catraia vai se aproximando do cardume e o “bombista”, de repente, lança o explosivo. Dependendo do tamanho do cardume são detonadas duas ou três bombas, algumas vezes mais do que isso. Em seguida, os “mergulhadores” e os “corsários” começam a recolher o pescado. Em pouco tempo todo cardume está a bordo. O peixe é vendido facilmente nas barracas de praia porque muitos “barraqueiros” são coniventes e alguns são “corsários” também. Toda essa operação não dura mais do que vinte minutos.

 

O TINGUI

Outro tipo de pesca predatória é a com utilização de plantas que possuem substâncias paralisantes ou atordoantes como o tinguí. Este tipo de pesca é muito utilizado nas poças formadas quando o rio está baixo, em lagoas e mesmo na praia quando a maré está seca.

 

CARRAPATICIDA E OUTROS PRODUTOS QUÍMICOS

Os produtos acima são usados nos mesmos locais nos quais onde o tinguí é utilizado, isto é, locais fechados sem correnteza, poças e lagoas, e também nos pequenos riachos onde o material é colocado num determinado ponto sendo carreado corrente abaixo contaminando o ambiente cuja água muitas vezes é utilizada para consumo humano, e matando peixes, alevinos, camarões, etc.

Os pescados capturados dessa forma são criminosamente comercializados nas feiras e locais públicos e consumidos pela população desavisada face o baixo custo da mercadoria.

 

ACIDENTES COM EXPLOSIVOS

O primeiro acidente com uso de explosivos registrado pela imprensa ocorreu na Ilha de Maré em 1953. De lá até os dias atuais muitas mortes e mutilações ocorreram por toda Baía de Todos os Santos.

 

Pode-se dizer que a pesca com uso de explosivos se estabeleceu na década de 50 quando a Petrobrás realizava ensaios de prospecção para localizar jazidas petrolíferas. Para realização dos referidos testes eram utilizados explosivos de grande potência. Nos locais das explosões milhares de peixes eram dizimados cobrindo toda superfície de branco dos peixes mortos e de outros agonizando. A população catava, vendia, mas a quantidade era tanta que ainda restavam toneladas que apodreciam nas margens do entorno da Baía. Na cidade de Caravelas aconteceu a mesma coisa.

Atualmente são usados outros métodos de localização de petróleo pela referida empresa.

 

 

Texto revisado em 28/05/09